Quando
ela acabou de tomar banho, se vestiu com roupas leves, pronta para dormir.
Enquanto ele tomava café na sala com seu chinelo de lã e seu roupão quente o
bastante para aquele dia frio de outono.
Ela após tomar um copo de leite caminha em
direção a seu quarto. Abre a porta e uma luz forte demais a faz desmaiar. Ele
resolve ir dormir e desliga a televisão. Caminha vagarosamente até seu quarto e
uma negritude fecha sua vista e ele desmaia.
Minutos após o desmaio ela se levanta e não
está em seu quarto, está na sala escura e fria. Ele se levanta e
percebe que o chão está gelado demais para ele estar ali e se vê dentro da sala
vibrante e sombria.
Os dois se levantam ao mesmo tempo, mas não
se enxergam ainda. Ela observa o armário coberto e a poltrona desgastada. Sua
expressão mostra saudade e uma lágrima cai de seus olhos cor de mel.
Ele se levanta virado para a mesa e sente a
presença de um anjo. Sua expressão é de tristeza e saudade, mas mostra também
um tom de culpa que não se sabe da onde vem.
Os dois começam a olhar a sala até que dão de
cara um com outro e não sabem o que fazer. A alegria aparece no rosto com um
toque de saudade profunda. Resolvem andar para se abraçar e dão de cara com um
vidro no meio da sala. Forçam com as mãos e nada. Estão afastados mais uma vez...
Por um momento eles escutam passos. Ela olha
para o armário e ele para o espelho ao seu lado. O armário é aberto e de dentro
dele sai uma menina linda de cabelos cacheadinhos e curtos. Seus olhos são
castanhos e sua pele branquinha. Ela veste um vestido branco de cetim e tem
sapatinhos de cristal que quase não aparecem em seus pés. Ela tem uma fita. Sorri e começa a cantar uma musiquinha antiga o bastante para ela. A pequena olha para
a senhora que ali está e dá o seu maior sorriso ao começá-la a envolver.
Uma luz se forma ali e a senhora muda de
roupa num feixe de luz. Sua pela branca e enrugada são a mesma e suas roupas
são brancas e leves. Uma presilha prende seus cacheados cabelos brancos em
forma de borboleta e em seu pescoço a um cordão cujo pingente é um anel de
prata. A pequena menina para, sorri e a abraça.
Enquanto isso um pequeno menino sai de dentro
do espelho. Seu cabelo é liso e castanho. Seus olhos são cor de mel e suas
roupas são brancas e de cetim. Ele traz na mão uma leve faixa branca e começa a
correr em volta do senhor que ali se presencia. Numa cena rápida que se ocorre o senhor está
com roupas brancas, leves e quentes. Em seu pescoço a um cordão com o pingente
de uma letra.
Eles se entreolham enquanto as crianças
atravessam o vidro. A menina abraça o senhor e o menino a senhora.
Os pequenos viram e se olham. Num instante de
segundos eles escrevem algo no vidro como se fosse algo comum, viram as costas
e somem numa fenda no meio da sala.
No vidro está escrito: “Não importa o que
tenha acontecido o infinito nos espera...”
Eles se olham, sorriem e a saudade vem, até
que uma música da vida deles toca e eles fecham os olhos. Ao abrirem cada um
está em seu quarto. Com as roupas de antes, mas cada um com seu cordão de
prata. Nesse momento suas expressões
são tristes, mas lá no fundo há um pouco de alegria em seus corações.
Ao voltar a observar a sala. A diferença
sempre é contínua. O armário coberto e a poltrona ao seu lado. A mesa e a
cadeira, e a sua frente o espelho. Na outra parede o quadro e na outra a janela
trancada como sempre. A luz que não para de piscar. O retrato caído no chão
quebrado e as penas negras se recolhem vagarosamente no chão até o armário.
Mas por
segundos se escuta choro de bebês ao romper do armário. Um anjo aparece na sala
e toda a escuridão some. Suas asas são negras, suas roupas brancas e seus
cabelos negros e lisos. Ele para na frente do armário e puxa sua lança
vagarosamente.
O choro cessa e uma sombra solitária aparece
atrás do anjo.
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