E eu pensei que jamais passaria um dia inteiro assim desde o
momento em que acordei. Sendo que já comecei mal acordando tarde demais para o
meu despertador cerebral. Já eram meio dia e dez e a minha vontade de levantar
da cama, por incrível que pareça, não era nada saudável.
Eu não tinha vontade
de nada. Absolutamente nada, muito menos comer mesmo que a fome estivesse me
fazendo quase ter vontade de correr até a cozinha e fazer algo para comer
rapidamente.
Hesitei por um
instante. Olhei o relógio novamente. Eram meio dia e quinze e a vontade de
levantar e encarar um dia longo e presunçoso de chuva e choros, novamente, não
me agradava em nada.
Levantei sem querer
acordar ninguém. O dia estava nublado e eu deitei rapidamente no sofá. Queria
voltar para a minha cama, mas não estava com sono algum e saberia que se eu
forçasse sono acordaria irritada comigo mesma depois.
A fome apertou e fui
para a cozinha. Comecei a fazer algo para comer até que ouvi o barulho da porta
do quarto da minha mãe. Ela acordou. Não falei com ela mesmo que ela tenha
vindo me dar um beijo de bom dia ou boa tarde, não sei. Hesitei e só disse
sobre meu pai, mas sem nenhuma proximidade.
Não queria falar com
ela de modo algum sobre nada nem ninguém, muito menos o que havia acontecido
noite passada. Eu já tinha chorado o bastante e mesmo que eu ficasse trancada o
dia todo não queria dirigir nenhuma palavra a ela.
E o dia se passou e
eu sem dizer nada. Ainda estava de pijama e tinha que tirá-lo para tomar um banho
e massagear meu pé e enfaixá-lo como comecei a fazer desde que o tinha torcido.
Não hesitei em fazer nada, continuei do mesmo jeito. De pijama, cabelo
bagunçado, sem falar com a minha mãe e no computador vendo e revendo as redes sociais
e tentando arranjar algo para fazer.
Então minha mãe se
foi trabalhar e eu esperava meu pai chegar para que uma decisão do meu dia
fosse tomada rapidamente. Sendo que já eram quase quatro horas da tarde e nada
dele, e eu precisava decidir tudo. Se iria para a festa ou não, se ficaria em
casa ou o que aconteceria comigo depois.
Enfim, a decisão foi
tomada quando meu pai ligou para mim. Eu não sairia de casa. Já estava
chorando, Deus sabe lá o por quê, e minha mãe ligou novamente me irritando. Pra
quê... Toquei em tal assunto e ela desligou na minha cara.
Tudo bem. Depois
continuaram ligando. Não importava mais mesmo. Eu já não iria mesmo. O que
faria do meu dia? Nada, exatamente isso. Nada de nada. Mas isso não era da
minha natureza. Não era normal para mim. Eu tinha que fazer algo. E esse algo
não era passar o dia todo deitada no sofá.
Não deu outra. Quando
percebi já eram oito horas da noite e eu tinha passado o dia todo coberta pelo
meu edredom lendo um livro e de vez em quando parando para ver algo na TV para
descansar a mente daquele livro que até que me prendia um pouco.
As horas foram se passando. Assisti um filem
aqui e ali. E de repente, cochilei sem hesitar ou pensar que não devia fazer
tal coisa por que não dormiria a noite. Mas acordei rapidamente e continuei a
ler o livro. Chorava a cada frase lida mesmo que meu choro não tinha nada haver
com aquele livro. Mas não sabia o motivo.
Então percebi que
tudo o que acontecera e o que estava acontecendo se juntou em meu coração e
começou a transbordar pelos meus olhos. Chorei a soluçar sem hesitar nem tentar
parar. Me cansei e fui assistir TV.
Não entendia o por
quê daquilo mas desejei sentir o abraço da pessoa que mais me fazia sorrir
naquele momento da minha vida. Ele era verde. Não, não era um ET muito menos um
alface ou algo assim. Ele era uma pessoa especial para mim e mesmo que eu
tivesse ligado para ele e ouvido sua voz não tinha adiantado.
Eu esperava um
abraço. Mas não podia sair de casa. Estava presa pelos meus choros, minha dor,
até que suportável, no pé e uma vida tão sedentária que eu arranjei nesse dia.
Chorei novamente
atrás de todo amor que ele me proporcionava. Senti saudades de tudo. Mas,
principalmente, sentia saudades daquele ser que um dia me fez sentir ser uma
princesa, um dia todas nós, mulheres, conseguimos nos sentir assim. Mas minha
vida de princesa tinha acabado me tornando uma bruxa ou entrando em coma legal
mais que a bela adormecida.
Até que não era tão
ruim. Mas eu nunca desejei tanto ter algo para fazer nesse dia. Acordar tarde e
passar o dia todo de pijama, lendo um livro, vendo vários filmes e comendo e
dormindo não era pra mim. Eu, necessariamente precisava de algo ou alguém para
me fazer, com um beijo ou sei lá o que, acordar após, não cem anos adormecida,
mas de um dia sem entender nada da vida, sem sair de casa ou sem ao menos
receber uma visita.