Ela veio. Linda e perfeita como sempre. Não sabia que ela
chegaria tão depressa. Apenas com meus dezessete anos de vida.
Lentamente e
furtivamente.
Eu a esperava.
Estava deitado num chão gélido e tenebroso. Era o meio da rua.
Uma rua escura.
Um céu sem estrelas e sem lua.
Nuvens. Pingos.
Chuva.
E ela caminhava.
Eu sorri. Acenei mesmo deitado. Ela sorriu.
Um sorriso maléfico
e sombrio. Já dava para perceber.
Fui percebendo aos poucos. Suas roupas. Seu jeito de andar.
Vestido cinza. Andar lento e sombrio. Pele branca e pálida.
Lábios vermelhos como rosas. Cabelos escorridos e brancos. Ela é linda.
Em suas mãos, algo
incontestável tinha. Uma foice e na outra uma garrafa fazia.
Ela chegou até mim.
Colocou a garrafa no chão e a abriu. Eu sorri mais uma vez. Ela disse:
“Não importa. A dor não virá. Apenas relaxe e sinta.”
Com a foice ela
desenhou um coração em meu peito. Com a sua mão arrancou-o com a maior delicadeza.
Ele ainda batia. Por que?
Ela sorriu. Dentes
brilhantes e perfeitos. Que vontade de tê-la.
O meu coração era negro. Havia algo escrito nele. Tentei
ler, não consegui. Ela me disse o que lá havia.
“Dor. Amor. Tristeza. Ódio. ... ”
Ela parou. Tinha o nome de alguém. Ela não pronunciou. Só
disse que era a sétima letra do alfabeto. Não consegui pensar. Eu estava de
partida.
Ela me levantou. Eu
olhei em volta. Chuva e mais chuva. E agora, criaturas irreconhecíveis.
“Demônios do paraíso...” Ela disse.
Eu sorri. Ela me levou até uma porta. Lá estava escrito: “Aqui
é a sua melhor escolha.”
Os demônios não eram
feios. Pareciam anjos do inferno. Eu olhei pro lado. Vi algo inacreditável. Me
assustei.
Um ser de luz. Anjo?
Não sabia. Do seu lado uma luz ofuscante. Todos se afastaram da luz, menos eu.
Ela me chamava. Eu a desejava.
Caminhei até a sua
direção. Não enxergava quem ali estava. Mas me apaixonei.
Impulso! Olhei para trás. Vi todos curvados. Não me curvei.
Minha expressão entristeceu. Não queria aquela luz. Voltei
ao meu desejo mais profundo.
Um suspiro. Abri a porta.
A luz ofuscante se
apagou. O ser de luz foi embora. O resto se levantou. Olharam pra mim.
Sorriram. Eu sorri. Desmaiei.
Acordei dentro de
uma sala.
Escura. Vazia. Sombria. Silenciosa. Sem medo. Nunca tenho.
Me levantei. Olhei para as paredes. Imagens. Fotos
espalhadas até pelo teto. Anjos. Demônios. Seres.
Não me assustei. Era meu quarto. Foi só um sonho. Que droga.
Olho para o chão.
Sangue. Mais uma vez. Lembrei do que houve.
Fazer o que...
..... O inferno é meu
maior refúgio .....
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